Com um a menos, Santos vira para tirar liderança e paz do Timão
A torcida corintiana começou o clássico avisando que o "bicho vai pegar" e terminou prometendo "terror". Bem diferente de santistas, que gritaram "tricampeão" durante todo o jogo e saíram do Pacaembu cantando "olé". Festa do alvinegro litorâneo, garantida com uma virada por 3 a 1, mesmo jogando com um a menos (Henrique foi expulso) desde os 21 minutos do segundo tempo.
A derrota, desta vez, custou mais do que um revés diante de um rival para o Timão. A equipe deixou a liderança do Campeonato Brasileiro para o Vasco e ficou atrás também do arquirrival São Paulo na tabela, além de renovar as esperanças santistas de ser campeão nacional antes de disputar o Mundial de Clubes, em dezembro.
O Corinthians, contudo, começou melhor, com organização premiada com gol de Liedson, aos 12 minutos do primeiro tempo. O time errou demais na sequência e deixou Henrique livre para empatar, aos 37. No segundo tempo, os comandados de Muricy Ramalho viraram com Borges, aos nove, e, apesar da expulsão aos 21, ainda ampliaram com Alan Kardec, aos 35.
Em momento de maior pressão na competição, o Timão terá outro clássico pela frente nesta quarta-feira, às 21h50 (de Brasília), justamente diante do São Paulo, no Morumbi. O Santos, por sua vez, poderá ampliar sua ascensão em visita ao América-MG no mesmo dia, às 20h30.
O jogo –
Ao ver as duas escalações com três atacantes, Muricy Ramalho chegou a duvidar da ofensividade dos times. Mas, usando as palavras do técnico do Santos, "o que estava no papel se confirmou na prática". Com menos de 10 minutos, ambas as equipes criaram oportunidades de abrir o placar.
O Timão entrou em campo disposto a usar as pontas e segurar os laterais adversários, abrindo Willian pela direita e Emerson mais solto pela esquerda, o que prendia, respectivamente, Léo e Danilo e dava opções para Alex na missão de fazer a bola chegar a Liedson.
Já o Peixe tinha Alan Kardec posicionado quase como um centroavante ao lado de Borges, deixando para Neymar a função de se mexer e conduzir a bola que os meio-campistas não conseguiam entregar. Postura estática que nada tinha a ver com a constante movimentação dos homens de frente do Corinthians.
De tanto buscar espaço, os mandantes do clássico criaram uma surpresa fatal. Aos 12 minutos, Emerson encontrou o lateral direito Alessandro quase na linha de fundo esquerda. O camisa 2 jogou na pequena área e nem adiantou Léo salvar na linha do gol. A constante rotação já tinha deixado livre também Liedson, que dominou o rebote e colocou nas redes.
Tite respirou fundo com o gol e logo ordenou aos seus comandados que dessem, ao menos, um passo para trás. O Santos estava confuso, obrigando Neymar a transitar entre as intermediárias para fazer a função de meia, já que Henrique e Ibson não conseguiam nem organizar a saída de bola. O Peixe tinha volume, mas não criatividade, e parava no goleiro Julio Cesar, autor de defesas complicadas no primeiro tempo.
Posicionado no contra-ataque, o Corinthians tinha Emerson livre para confundir a marcação e Willian sempre pronto para receber a bola, driblando Léo como queria. Assim, só não ampliou no primeiro tempo porque encontrou Rafael inspirado. O Timão ainda contava com um Liedson nada satisfeito em ser só uma referência. O camisa 9 saía da área, vencia seus marcadores e chegou a acertar o travessão.
Sem alternativas, Muricy inverteu Henrique e Ibson, incumbindo a saída de bola ao ex-jogador do Flamengo. O problema é que os ataques sempre paravam nos erros de passe do volante. Falhou tanto que foi esquecido pelo Corinthians. Sorte do Santos, já que, aos 37 minutos, ele ficou sem marcação na área após cobrança de escanteio e empatou o clássico.
Irritado com a própria falha, o Timão só conseguiu responder ao gol no primeiro tempo em cobrança de falta cobrada por Alex. O Peixe, por sua vez, soube se aproveitar não só do placar igualado, mas dos minutos de conversa nos vestiários para, enfim, ter uma organização na chegada ao ataque.
Ibson voltou para o segundo tempo mais acordado para carregar a bola ao ataque, liberando Neymar para fazer só o que sabe: importunar os defensores adversários. O camisa 11 cumpriu tão bem a missão que seu time entrava na área do Timão como pretendia.
Mais recuado, Alan Kardec já encarava sempre de frente seu marcador ou, em velocidade, não tinha ninguém para detê-lo. Dessa forma, apenas não marcou o gol aos seis, nas costas de Ramon, porque Julio Cesar fez um milagre com os pés. O caminho para colocar a bola nas redes era claro.
Perdido, o Corinthians deu duas oportunidades seguidas ao Santos no mesmo lance, sempre no setor de Ramon. Na primeira, Julio Cesar salvou o gol de Neymar. Na segunda, Alan Kardec cruzou para Borges, livrar, selar a virada aos nove minutos do segundo tempo.
O Timão, que antes do jogo ouviu sua torcida dizer que o "bicho" pegaria se não vencesse, sentiu-se pressionado. Tite corrigiu a defesa, trocando o machucado Ramon por Welder, e abriu mão de Willian e Ralf para renovar a criação ofensiva com as entradas de Jorge Henrique e Danilo. Partiu para cima, ignorando espaços ampliados para o rival contra-atacar.
O técnico corintiano, que mais uma vez ouviu com frequência os gritos de "burro", ainda pôde comemorar a expulsão de Henrique, após duas faltas duras na etapa final, aos 21 minutos do segundo tempo. Em campo, porém, nem parecia que havia alguma equipe com um atleta a menos.
Diante do desespero de um Corinthians que deixava de ser líder, triunfou um Santos mais tranquilo e envolvente. O gol de Alan Kardec, aos 35 minutos, aproveitando falha de Paulinho, desacostumado a atuar na cabeça de área, e desvio de Chicão contra as próprias redes, só confirmou o quadro. Com "terror" prometido pela torcida corintiana, em coro.
Para completar a péssima tarde de domingo no Corinthians, Alex caiu no gramado, desmaiado, após choque na intermediária defensiva do Santos. A situação causou apreensão até nos adversários, mas o meia saiu de campo já acordado na ambulância. Uma das últimas cenas de um clássico a ser esquecido pelo Timão.
